Os desafios
do RH em um novo cenário brasileiro
Muito tem se falado sobre como o desempenho econômico e o
aquecimento da economia trouxeram como consequência negativa a falta de mão de
obra, e expuseram isso como um dos gargalos para o crescimento da economia
brasileira a longo prazo. Ainda que distante do ideal, o cenário atual carrega
grandes conquistas, principalmente para as gerações que conheceram um Brasil de
inflação galopante e emprego escasso.
Mesmo assim, estas conquistas não têm sido suficientes para,
por exemplo, manter a confiança da indústria na economia. A onda de otimismo
que assolava os empresários brasileiros e investidores estrangeiros há dois
anos já não existe mais. O Índice de Confiança da Indústria divulgado pela
Fundação Getúlio Vargas e o Índice de Confiança do Empresário Industrial pela
Fiesp apontam para uma diminuição na confiança do empresário, que tem uma
leitura negativa tanto da situação atual, quanto da expectativa futura. Esta
expectativa tem um forte peso no resultado da eleição presidencial deste ano,
que até o momento, ainda é incerto. E é nesses momentos que a incerteza passa a
se tornar um mecanismo de pressão dentro das organizações.
Diante de um cenário que causa temores em vários setores da
economia, no qual várias empresas estão reduzindo investimentos e expectativas
de crescimento, qual é o papel que o Recursos Humanos deve adotar para auxiliar
a sua organização a não perder o rumo em direção às metas e objetivos do
negócio?
Ora, a redução nos investimentos e no crescimento implica em
maior austeridade na gestão das empresas. Assim como os países afetados pela
crise europeia nos últimos anos, em um cenário de crise as companhias devem
implementar cortes de custos e maior exigência de performance de suas equipes.
Volta a valer o antigo bordão: “fazer mais, com menos”.
Mais do que nunca, o RH deve cuidar para que a organização
consiga trabalhar com custos competitivos no que tange a pessoas, da mesma
forma como é tarefa de RH a realização de um acompanhamento da performance das
equipes e dos times. E aqui é preciso deixar claro que o principal protagonista
no desenvolvimento de equipes de alto desempenho e na conquista de resultados é
o gestor de cada área. Recursos Humanos tem a responsabilidade de fornecer as ferramentas
adequadas para potencializar esses resultados.
Mais do que isso, o RH pode ajudar os gestores a trazer das
sombras da subjetividade a gestão do desempenho e posicioná-la sobre dados
concretos e análises que trazem subsídios para a tomada de decisão nas
organizações. Além do auxílio no desenvolvimento e coaching das lideranças, o
RH pode contribuir muito, oferecendo recursos para tangibilização das
atividades, possibilitando ao gestor medir com eficácia a contribuição de cada
membro de sua equipe, tanto do ponto de vista de resultado quantitativos como
do lado comportamental e qualitativo.
Outro ponto para o qual deve-se atentar em um momento de
incerteza econômica é a retenção das pessoas-chave da organização. Identificar
e reter talentos pode ser crucial para a sobrevivência de qualquer empresa,
principalmente em um período de crise. Se, por um lado, o mercado de trabalho
está menos aquecido, por outro, perder talentos em um momento de aperto de
cinto pode ser desastroso. E, para reter talentos, é necessário primeiro
identificá-los. Pergunte a si mesmo: você tem clareza de quais são os talentos
da sua organização? Você tem um mapa claro de quem é chave para o sucesso de
cada área da sua empresa? A tangibilização dos resultados de que falávamos antes,
é o primeiro passo para identificar os talentos, para posteriormente podermos
agir com programas efetivos de retenção.
Em resumo, em um momento de crise, abre-se ao RH uma
oportunidade. A oportunidade de ter uma atuação realmente estratégica na organização.
O RH precisa se posicionar de forma assertiva, buscar inovação e resultados,
para equilibrar a relação entre o custo da folha de pagamento e a performance
do time. E isso se faz com um trabalho sério de gestão do desempenho e
performance, engajamento de equipes em torno das metas e objetivos, e o
compromisso das lideranças em assumir o desenvolvimento das pessoas como uma
premissa fundamental para o crescimento.
Acima de tudo, isso se faz a partir de um olhar e de um posicionamento
que tiram o RH do rótulo de área de “suporte” ao negócio, e o traz para o
centro das atenções, lado a lado com outros departamentos core para a
organização. É um momento precioso, no qual o RH pode aproveitar o gancho das
mudanças e transformar a si mesmo em um agente positivo de mudanças.

